2.10.08

QUARENTA

(03 de Novembro de 2005)

Uma descarada (mas honesta!) auto homenagem que escrevi para o perfil do Orkut no dia do meu 40º aniversário.




Poderia ser apenas mais uma data - e talvez o seja.
Na epopéia imensurável do espírito, não passa de um insignificante punhado de tempo.

Tempo já houve, contudo, para ter muito a lembrar.
Eu quero me lembrar, tenho tido esse desejo - de celebrar as memórias, sem nostalgia, sem nem mesmo saudade, apenas com reverência.

Deve ser coisa de velho.

Nasci nos sessenta, fui criança nos setenta de Vilá Sésamo na TV preto e branco, jovem nos oitenta quando tudo aconteceu nas noites inesquecíveis do bairro boêmio do Bixiga que não existe mais. Adulto nos noventa, trombei com a crueza das realidades da vida. Agora, neste século ainda novinho, achei de ser meio moleque de novo.

Entendi o que era "ditadura" quando a nefasta já estava caducando, vi a "abertura" (lenta e gradual) acontecendo ao som de canções que me apaixonaram, usei camiseta amarela nas "Diretas Já" e vermelha uns anos depois, cheio de esperanças como quase todo mundo. "Cara-Pintada" eu não fui porque naquele tempo eu já não tinha ilusões - e agora eu olho prá essa cena de hoje em dia completamente enjoado. Não gosto de política, faço a minha, à minha volta - e basta.

Viajei com mochila nas costas, pisei em muitos palcos me sentindo o superstar, bebi até cair, fumei (e traguei), prosperei e fali, fiz amigos, mantive alguns, perdi muitos. Vi Chico, Tom, Paul McCartney, Elizete Cardoso. Vi Pelé, Rivelino, Maradona, Zico, Sócrates, Falcão, Ronaldo e Ronaldinho, Romário e Robinho. Vi o Cristo Redentor e a Baixa dos Sapateiros, Jeriquaquara quando ninguém ia lá, a Ópera de Arame, as ladeiras de Olinda e as serras do Sul.

Amei e fui amado - e algumas vezes as duas coisas até aconteceram simultaneamente. Das paixões eu conheci muitos lados e muitas cores - mas não todas, não cometo mais o erro banal de dizer que sei tudo. Casei e descasei várias vezes com quem chegou e ficou pouco - e também com quem ficou tempo demais. Mas não me concedo o direito ao arrependimento.

Meu melhor casamento aconteceu há pouco mais de dois anos: casei comigo mesmo. A relação é sujeita à instabilidades mas parece que vai durar.

Aprendi umas coisas, coisas a respeito dos fatos imateriais, coisas que me esforço para compreender melhor e - com alguma sorte - passar adiante, dentro e fora da religião que adotei e que me adotou.

Chego aos quarenta arranhado mas inteiro, cansado mas lúcido, sem grandes posses mas com tudo de essencial. Família sólida, casa, trabalho, saúde física, um livro inacabado, um violão guardado, um bicho de estimação e uma namorada que nasceu quando eu já havia cometido aproximadamente metade dos erros e acertos da minha história.

Estou fazendo quarenta e estou - sim! - descarada e desavergonhadamente me auto homenagiando. Mas quero também homenagiar e agradecer às pessoas fundamentais, que me trouxeram até aqui, que cederam os tijolinhos que me construiram, que foram personagens de épocas diferentes mas que - no fim das contas - são todos ingredientes do mesmo molho.

(Mas vou citar apenas os que contribuiram pelo lado positivo, com seu amor e amizade, me esquecendo propositalmente dos que me ensinaram pelo lado inverso - sem contudo diminuir a importância de se aprender pelo sofrimento)

Luiza e Jurandyr, meus pais.
Dona Zita.
José Cesar Franceschi, o original.

Carla, Dedé, Zizi, Márcia, Alvaro, Fernando, Olímpio, Juci, Paulo, Elô, Rita Goulart, Vanderléia, Sílvio, Sônia, Amanda.

Vocês foram, são e serão sempre bem vindos à minha festa.

(03.11.2005)

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Um comentário:

juci ibanez disse...

Bom...você sempre foi e será um fantástico contador e colecionador de história.
O fato de saber que fiz parte dessa construção pessoal, nem quero saber por qual motivo, me faz feliz demais, porque amo você! Nunca me esqueço de tí!
Eu hoje nos 4.7, tenho nas minhas histórias muitas vezes um único protagonista, que também me fez ver o mundo de uma forma diferente, a música como alimento da alma, mesmo que num tempo muito meu, demorado, aprendí demais contigo.
Sim, eu sou saudosista, porém vejo o meu hoje totalmente fundamentado no ontem que você fez parte também.
Só quero dizer que na festa da minha vida você também está na lista.
Beijos e luz