3.10.08

Agora

(Abril, 2007)

Perdi há muito, pelos ralos do tempo, todas as minhas auto-definições - tinha-as mesmo, algumas bem ensaiadas, umas pomposas, outras supostamente inteligentes, vaidosas, muito vaidosas: perdi-as. Todas. Enquanto eu me preocupava em me "apresentar" para o mundo, os redemoinhos da vida se encarregavam de esfacelar todos os meus estandartes.


Não sei mais dizer "quem sou" e quase nem me importo com isso: já não quero mais ser algo que se explique, pretendo apenas ser sentido, se essa sorte ainda me couber.

Bem poucas são as certezas que ainda tenho a meu próprio respeito.

Sei que sou determinado ao extremo, diante de algo em que realmente acredito. Amo com intensidade. Muita intensidade. Por vezes exagero. Sou honesto comigo, quase sempre - não me permito trair a mim mesmo.

Sou o resultado, o produto quase aleatório, sabe-se lá de quantas vivências passadas e desta também - com erros óbvios e supostos acertos sobre os quais eu agradeceria imensamente se me fosse concedido o direito de não mais pensar.

Estou cansado.

Cansado de tentar me auto-analisar, cansado de me (re) conhecer a cada capítulo da minha novela, cansado de assumir culpas, ainda que as tenha.

Cansado sobretudo dessa maldita "voz interna", que jamais se cala e que insiste em me dizer coisas que eu estou cansado de ouvir.

Já está ficando tarde.
Eu só queria agora ter um canto prá descansar.

(Abril, 2007)

***

Silêncio, por favor
Enquanto esqueço um pouco
A dor no peito

Não diga nada
sobre meus defeitos
Eu não me lembro mais
Quem me deixou assim

Hoje eu quero apenas
Uma pausa de mil compassos
Para ver as meninas
E nada mais nos braços

Só este amor
Assim descontraído

Quem sabe de tudo não fale
Quem não sabe nada se cale
Se for preciso eu repito
Porque hoje eu vou fazer
Ao meu jeito eu vou fazer
Um samba sobre o infinito

("Para Ver as Meninas" - Paulinho da Viola)

***

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