(Março, 2007)
Assim como aquele compositor, eu também – há tempo! – “vivi a ilusão de que ser homem bastaria”. Felicidade essa minha de ter-me encontrado – a tempo! – com a humilde delícia de saber-me dela: a mulher que tomou-me a vida de assalto é quem comanda minha vontade.
Pouco me vale o tanto de estrada já percorrida, o tanto de amor e desamor já colhido, os ferimentos e as medalhas, os cabelos brancos e os sinais no rosto – quando o cansaço da vida me alcança, é nos braços dela que eu busco refúgio. Dias há também que valor nenhum parecem ter as memórias e experiências acumuladas: se a escuridão é muita, eu procuro pela luz dos olhos dela.
Eu não me engano – desde muito cedo – com os seus ares juvenis: a mulher que habita minha vida tem seu corpo jovem animado por um espírito velho e nobre, com conhecimentos inerentes e latentes sobre coisas que homem velho de guerra custa a entender. Essa menina conhece intimamente toda a dor e todo o prazer, toda tristeza e toda alegria de saber-se mulher.
Muitas em uma só, a menina de rara inteligência e sensibilidade, com quem passo horas a conversar sobre música e poesia, é a mesma criança que me alegra os dias e que arranca de mim os risos mais desarmados de toda essa minha existência terrena; a mulher com quem me deito e deliro, realizando-me em seu prazer sem medidas, como igual jamais vi, é a mesma moça romântica que devolveu-me o sentido perdido de sonhar.
Olhando para ela me calo, admirado e atônito diante do fato dela ter me escolhido – e minha “paixão” é quase um mero detalhe sem maiores importâncias: humildemente reconheço-me como nada mais que um homem.
Ela é a mulher.
(08.03.2007)
***
3.10.08
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COMENTÁRIOS RECUPERADOS - POSTADOS NO ANTIGO BLOG
enviado por: Li
Gosto muito dos seus textos e da maneira como vc escreve!!
Em: 18/03/2008 00:19:10
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