13.7.09

O Retorno


”Se com ele, pois, houver um mensageiro, um intérprete, um entre milhares, para declarar ao homem a sua retidão, então terá misericórdia dele, e lhe dirá: Livra-o, para que não desça à cova; já achei resgate. Sua carne se reverdecerá mais do que era na mocidade, e tornará aos dias da sua juventude.”

(Jó, 33: 23, 24 e 25)




A primeira aparição misteriosa acontecerá dentro de aproximadamente quatro anos. O local será cuidadosamente estudado e, embora o plano inicial fosse de que acontecesse nas cercanias de algum campo de refugiados na África, acabará se optando pela localidade de Beit Hanoum, na Faixa de Gaza – povoado que estará sendo arrasado por bombardeios do exército israelense, em mais uma onda de conflitos que assolarão aquela região.


Lá, um garoto de presumidos 11 anos, de nome Mahmud, afirmará a tantos quanto encontrar que viu a aparição no alto de uma colina, a pouco mais de 500 metros de um posto de observação do exército de Israel. Dirá que ele vestia uma túnica branca, que tinha a pele muito clara, que tinha os cabelos ao vento, que sorriu e acenou – e desapareceu em poucos segundos, em meio a uma nuvem de areia levantada por um vento mais forte.


Confrontado com inúmeras fotos e imagens, Mahmud dirá sem qualquer hesitação que “sim”, foi aquela pessoa que ele viu – muito embora o menino não tivesse, até então, sequer idéia de quem fosse aquela pessoa.


Transformado em celebridade mundial instantânea, pela velocidade com que a notícia se espalhará pelo mundo – principalmente pelo Twitter e por outros meios de comunicação on line –, Mahmud será procurado, entrevistado, fotografado e filmado por jornalistas de todo o mundo. Em entrevistas exclusivas concedidas à CNN e à BBC, Mahmud confirmará sua história e revelará qual o seu maior sonho: que ele, sua família, seu povo pudessem viver em paz, que os intermináveis conflitos na região acabassem, que não houvesse mais bombas, nem tiros, nem morte...


Mahmud dirá ainda que a “aparição da colina” foi quem o inspirou a lutar pela paz entre os povos e que, daquele dia em diante, ele passara a acreditar que a mesma era possível.


Causando uma onda instantânea de comoção planetária, Mahmud – ao mesmo tempo em que terá seu rosto estampado em camisetas, botons, capas de revista e primeiras páginas de jornais – levará os olhos do mundo todo para a região, influenciará as lideranças, desqualificará e desmoralizará os motivos do conflito e, em poucas semanas, conseguirá o inimaginável: um cessar fogo, total e definitivo, com Israel desocupando completamente a região, reconhecendo o Estado Palestino, o Hamas prometendo se desarmar e direcionar toda a sua estrutura para o trabalho humanitário na região.




Pouco tempo depois, será inaugurada uma estátua da “aparição da colina”, exatamente no local onde Mahmud afirmará tê-la visto, em cerimônia que também celebrará a reconstrução da região e que contará com as ilustres presenças do primeiro ministro de Israel e do presidente americano, Barack Obama, que será o mediador do processo de paz.


Mais popular do que Mahmud e do que Obama, apenas a “aparição da colina”: em meio ao fato, todas as espécies de produtos licenciados com sua marca terão suas vendas multiplicadas em todo o mundo. Indiferentes aos milhões de céticos que classificarão o ocorrido como uma simples “alucinação” de um menino, antigos e novos fãs tratarão de alçar a “entidade” à categoria de um quase-santo.





A segunda aparição se dará pouco menos de um ano após a primeira e acontecerá no Rio de Janeiro, no bairro de Botafogo, mais precisamente no Morro Dona Marta.


Lá, um garotinho de apenas 5 anos, chamado Maicon, terá com a “entidade” um contato ainda mais próximo. Suas irmãs, Suellen e Meriellen, de 9 e 11 anos, respectivamente, responsáveis por cuidar do irmão enquanto a mãe, a diarista Karollaynne, se encontrasse no trabalho, se distrairão por uns instantes e, apavoradas, notarão que o pequeno desaparecera. Depois de muito andar pelas vielas da favela, chamando “Maicon, Maicon!”, finalmente o encontrarão no fim de um beco, sentado no colo da “aparição” – e, segundo relato das meninas, estariam ambos envoltos em uma forte luz. Paralisadas, as meninas assistirão a cena do “visitante” carinhosamente se despedindo do menino, antes de desaparecer em meio a um clarão misterioso.


Com o irmão sendo passado sucessivamente do colo de uma para o colo de outra, como fosse um pacote, Suellen e Meriellen sairão em correria pela favela gritando a plenos pulmões:


- Maicon! Maaaaaicon!!


Os vizinhos não entenderão nada:


- Mas já num encontraram o menino? Óia o Maicon aí, menina doida!


Demorará algum tempo para as meninas conseguirem recobrar o fôlego e explicar aos incrédulos o que se passara, e, em poucas horas – com a devida permissão do “dono do morro” –, a favela será invadida por equipes de reportagem e por um batalhão de curiosos.


O fenômeno da Faixa de Gaza se repetirá e, instantaneamente, Suellen, Meriellen e principalmente Maicon, se tornarão celebridades mundiais. Em entrevista exclusiva à Patrícia Poeta, no Fantástico, o garotinho balbuciará algumas palavras que ninguém entenderá direito, mas todos acharão lindo. Suellen chorará muito durante a entrevista porque, segundo ela, lembrar do ocorrido a “deixa muito emocionada”. Mas Meriellen dirá que acha que a “aparição da favela” veio trazer “uma mensagem de paz para o Brasil.”


Convidados de honra para o camarote da presidente Dilma para assistirem, no Maracanã, à final da Copa do Mundo entre Brasil e Argentina, os irmãos “preferirão” aceitar o convite da Rede Globo – e verão o jogo ao lado de Galvão Bueno. Ao final da partida, com o Brasil campeão, Maicon receberá das mãos do capitão Kaká uma camisa da seleção autografada por todos os jogadores.





No Dona Marta, diante da romaria de visitantes de todas as partes do mundo – jornalistas, cientistas, parapsicólogos, videntes, sensitivos, religiosos, artistas e políticos –, um fato impensável ocorrerá: o “dono do morro”, reunido com seu staff, decidirá interromper suas “atividades comerciais” e investir em turismo! Num acordo inédito com as autoridades locais, celebrado por todos como um exemplo avançadíssimo de PPP – Parceria Público-Privada –, implantarão juntos no morro, uma série de melhorias, que irão desde saneamento básico, asfaltamento e iluminação, até a instalação de elevadores panorâmicos e a construção de um shopping center e de um hotel – ambos receberão o nome da “aparição”.


Ao mesmo tempo perplexo e maravilhado, o mundo todo passará a falar sem parar nos misteriosos eventos. Durante muito tempo, praticamente não haverá outro assunto nos noticiários. O grande ícone passará a ser celebrado em toda parte como uma espécie de “messias”, uma aparição que, por onde passa, leva paz e prosperidade aos povos.


“Alucinação”, “fraude”, dirão os céticos. Alheios a isso, fãs de todo mundo, agora mais corretamente classificados como “seguidores”, darão um novo impulso às vendas de tudo que se refere ao ídolo, movimentando bilhões. Os detentores legais dos direitos de imagem, de licenciamentos e autorais da obra do grande ícone, destinarão grande parte dos lucros – e farão absoluta questão de mostrar isso ao mundo da forma mais espetaculosa possível – a entidades beneficentes e obras sociais de todas as espécies.


As pessoas passarão a se perguntar onde será a próxima aparição. Por toda parte haverá palpites, apostas. Mais que isso, comunidades de todo canto passarão a “pedir” para que a “entidade” apareça em suas regiões. Grupos se reunirão para montar santuários, construir “campos de pouso” e edificar estrambóticos “palcos” nos lugares mais ermos e inusitados da Terra, para receber uma possível aparição do grande ídolo.


De fato, as aparições continuarão, embora apenas algumas serão classificadas como “autênticas” pelos grupos de estudos que se formarão especialmente para esse fim. Entre elas, uma em Bancoc, na Tailândia, uma numa região árida do Sudão, uma num povoado rural da China, uma em Soweto, Joanesburgo, na África do Sul. Em uma contestada aparição no bairro do Harlem, em Nova York, alguém conseguirá, com um celular, filmar o evento por cerca de 3 segundos. As imagens – distorcidas, tremidas e feitas de longe, de um carro em movimento – correrão o mundo exibidas pela TV e pela internet e serão exaustivamente estudadas por especialistas que não chegarão a nenhum parecer conclusivo.


Mas o fato mais estarrecedor ainda estava por acontecer.





“Mas, dando ele um presente da sua herança a algum dos seus servos, será deste até ao ano da liberdade; então tornará para o príncipe, porque herança dele é; seus filhos a herdarão.”

(Ezequiel 46:17)



Muito tempo antes de as aparições começarem, numa comunidade rural do estado americano do Missouri, numa cidadezinha chamada Jacksonville, será criada uma igreja, precursora de uma nova religião. Batizada como “The First Moonwalker Church” e fundada pelo ex-músico, ex-pugilista e ex-presidiário Jason Demétrius Brown, a “Moonwalker” será dedicada justamente à adoração do Grande Ícone – e terá uma grande imagem Sua fixada atrás do púlpito, de onde o auto proclamado “missionário” Jason proferirá suas pregações.


Os seguidores do missionário acreditarão na sua teoria (que ele preferirá chamar de “revelação”) de que o Ídolo regressará dos mortos para guiar os escolhidos pelo caminho do amor, da paz e da fortuna. Os cultos da nova igreja se caracterizarão por terem muita música e dança em suas celebrações. Para legitimar sua fé, os adeptos da Moonwalker se dedicarão ainda a vasculhar toda a “obra terrena” do Ídolo – estudando fotos, filmes, rodando discos para trás –, à procura de mensagens e sinais deixados por Ele.





Inicialmente classificada como mera bizarrice fanática, a Moonwalker Church ganhará notoriedade mundial quando começarem as aparições – e também milhões de adeptos em todas as partes do planeta. No Brasil, por exemplo, os espetaculares templos da Moonwalker reunirão em seus cultos, desde pessoas humildes até artistas – por alguma razão, será difundida a crença de que os cultos da nova igreja teriam o poder de operar autênticos milagres no sentido de impulsionar carreiras de artistas decadentes, razão pela qual ela passará a ser procurada por cantores, atores e ex-participantes de realities shows. Terá entre seus simpatizantes ainda, muitos jogadores de futebol, que comemorarão seus gols reproduzindo, à beira do gramado, os passos mais característicos de dança do Grande Ícone – e se tornarão, com isso, grandes divulgadores da nova fé.


Numa noite, na sede mundial da Moonwalker, durante um de seus vibrantes cultos, o missionário Jason revelará ao mundo que seu filho, o jovem Michael Brown, 12 anos, passara a não só ter “contato” com a “aparição”, como a receber do Grande Ícone inspiração para continuar Sua obra na Terra! Diante dos olhos assombrados da multidão de fiéis presentes e de outros milhares que estarão acompanhando pela TV, Michael dará a primeira amostra de sua ligação com o Ídolo, apresentando – devidamente acompanhado por grupo musical e bailarinos coreografados – uma canção inédita que em tudo lembrará o estilo inconfundível do Grande Astro.


As circunstâncias dos contatos entre o jovem Michael Brown e o Grande Ícone jamais serão totalmente esclarecidos, uma vez que o menino viverá em isolamento completo, tratado como uma espécie de objeto sagrado, proibido de conceder entrevistas e “blindado” por seu pai e pelo alto prelado da Moonwalker Church contra qualquer tentativa de aproximação com o mundo externo.


Fiéis confirmarão que o garoto, desde muito cedo, revelou-se, nos cultos, excepcionalmente talentoso como cantor e dançarino, e que, mesmo antes da “revelação”, muitos apostavam que ele seria uma espécie de “escolhido” para suceder o Grande Ícone.


Boatos se espalharão, dizendo que os “encontros” entre Michael Brown e a Entidade já aconteciam há alguns anos, sempre em uma espécie de santuário secreto, construído pelo missionário Jason em uma das muitas propriedades da igreja – e que o garoto, desde então, estaria sendo “preparado” pelo próprio Ícone para continuar Sua obra na Terra.





Céticos, como sempre, tratarão de desqualificar o fato, chamando o jovem Michael de “fraude” e de simples “imitador”. Fãs, contudo, identificarão nele o estilo inconfundível e em pouco tempo, o elevarão a novo astro mundial: Michael Brown venderá milhões em todo tipo de produto ligado à sua arte e à sua imagem e seus shows atrairão multidões nunca vistas.


Para espanto geral, o jovem artista assinará as novas composições “em parceria” com o Grande Ícone. Os valores provenientes de seus direitos autorais e de veiculação – como de resto, todos os valores arrecadados com shows, filmes e produtos licenciados – serão divididos entre a fundação criada pelos detentores dos direitos legais do Grande Ícone e a Moonwalker Church. E, diante do verdadeiro cataclisma causado pelo surgimento do novo astro, precedido pelas misteriosas aparições, e pelo misto de entusiasmo artístico e idolatria religiosa que cercará suas atuações, os valores auferidos serão os maiores já vistos no mundo do show business.


O Grande Ícone assim, tal qual um messias retornado à Terra do mundo dos mortos, como que reencarnado no corpo de um jovem e talentoso artista, com seu nome e sua imagem ilibados, transformados em algo quase sacro, viverá novamente entre os homens. Para sempre.




O jovem Michael Brown terá sido, de fato, um achado.


Localizar, identificar e preparar um sucessor era, desde o início, parte do plano. Mas, encontrar um jovem tão talentoso será motivo de intensa comemoração entre o astro e os articuladores do grande projeto. Todavia, a fundação da igreja, bem como o local escolhido para sua sede, terão sido, digamos, “artificialmente inspirados”.


As “aparições” foram sugeridas ao astro por um de seus auxiliares mais próximos, como forma de preceder sua “volta” na pele do sucessor, devendo acontecer cercadas de muitos cuidados, em locais escolhidos com muito critério. Sempre para crianças. Sempre em comunidades carentes, assoladas por guerra, fome, doença, violência, em que um evento dessa natureza terá o poder de causar transformações, levando para lá os olhos do mundo inteiro e associando a imagem do ídolo à benemerência, ao progresso e à paz.


Surgir misteriosamente nessas localidades ermas e desaparecer em seguida, entre clarões misteriosos e nuvens de poeira, será o menor dos problemas para quem sempre cercou-se dos melhores profissionais do mundo na criação de efeitos especiais – nem mesmo será necessário que o artista esteja mesmo presente, fisicamente, em todos esses eventos.


O grande projeto começou a ser articulado dois anos antes de ser deflagrado com a “morte” do astro. Com a carreira há muito decadente, a credibilidade abalada pelo envolvimento em escândalos, as dívidas chegando a valores estratosféricos e o status de ídolo mundial trocado pelo rótulo de aberração, o engenhoso plano foi a melhor e mais honrosa saída encontrada.


O resultado era previsível. O mundo se “esqueceria” subitamente de tudo o que de ruim estivesse associado ao artista e passaria a reverenciá-lo novamente, como não o fizera nem em seus momentos de maior sucesso. Numa sociedade hipócrita, a morte tem o dom da santificação. Na esteira da surpreendente tragédia, seus discos, vídeos e produtos licenciados passariam novamente a render milhões em todo planeta.


A execução do plano, contudo, deveria ser precedida por minuciosa preparação. A equipe formada apenas pelo artista e por um número mínimo de assessores de sua total confiança – e todos regiamente recompensados –, teve como primeira tarefa, localizar um patrocinador para o grande projeto. Um príncipe da corte real de um dos Emirados Árabes Unidos, um admirador fervoroso do artista, entusiasmou-se com a perspectiva de financiar tão audacioso plano. Em troca, receberia, além de dividendos futuros, duas inestimáveis recompensas: periódicas apresentações privadas do ídolo, absolutamente sigilosas e limitadas à sua corte e ver boa parte da civilização ocidental “de joelhos”, chorando, ludibriada por um ardiloso projeto por ele bancado.


Assessores jurídicos trataram de tomar todas as providências necessárias para que o espólio do astro, após sua “morte”, jamais caísse em mãos erradas.


Especialistas em marketing prepararam o terreno, concebendo e anunciando uma apoteótica volta do artista aos palcos, numa mega turnê mundial – o que jamais aconteceria.


O dublê foi escolhido com muita antecedência. A ele não foi exigido nenhum dom ou talento especial, apenas que tivesse com o astro uma semelhança mínima em peso e altura: os cirurgiões plásticos, profissionais com os quais o artista teve estreita relação durante toda a vida, se incumbiriam do resto. Contudo, esse homem deveria ter uma específica “qualidade”: deveria ser um paciente terminal, de moléstia não degenerativa, com um tempo restante de vida que coincidisse aproximadamente com a data estipulada para que o plano fosse deflagrado.


O homem, que recebeu como recompensa uma vultosa soma para deixar como herança a seus poucos familiares mais próximos, deveria inclusive fazer algumas rápidas aparições públicas no “papel” do artista – e o fez, o que explica a aparência notadamente debilitada do astro e – nas poucas vezes em que apareceu em público sem uma bizarra máscara – as feições alteradas a ponto de causar espanto em quem o viu:


- Nem parece a mesma pessoa! – diriam muitos.


O plano chegou a correr um sério risco quando um súbito agravamento do estado de saúde do dublê, antes do esperado, antes que todas as providências estivessem tomadas, quase colocou tudo a perder. Contudo, a equipe médica, peça fundamental do grande projeto desde sua concepção, conseguiu mantê-lo vivo – à custa de medicação e de coma induzido – até o momento que os integrantes da equipe chamavam de instant zero: quando um telefonema feito da residência do artista para o serviço de emergência local, solicitando a presença de paramédicos, informaria que lá havia um homem em parada cardíaca.


Nesse instante, o astro já estava muito longe: cerca de vinte e quatro horas antes, viajara incógnito numa aeronave particular, destinada especialmente para essa finalidade por Sua Majestade Real, o príncipe. Devidamente instalado num castelo às margens do Golfo de Omã, pode assistir de camarote à mais impressionante atuação de toda a sua carreira. Nada tão espantoso para alguém que concebeu um personagem e que, ao longo da vida, literalmente transformou-se nele.


Não pode, todavia o astro, evitar algumas manifestações de desagrado ao ver o espetáculo cafona em que seus familiares, ávidos por amealharem alguns trocados, transformaram seu funeral. Mas emocionou-se ao ver a romaria de fãs se acotovelando para ver, por um instante que fosse, o caixão banhado a ouro, evidentemente lacrado. Nos dias seguintes, divertiu-se com todas as especulações da imprensa mundial a respeito do destino do corpo, da causa da morte, dos resultados da autópsia, dos traços de medicamentos controlados encontrados no cadáver e das teorias levantadas por gente em todo mundo – especialmente blogueiros – apontando uma possível farsa.


Riu muito também com supostas aparições de seu “fantasma”, algumas até “documentadas” por cinegrafistas.


- Isso é coisa nossa? – perguntou a seus assessores, em tom de comédia.


No momento, o astro já se encontra instalado naquela que será sua residência fixa pelos próximos anos: um antigo mosteiro nos confins do Nepal, especialmente comprado e adaptado para abrigá-lo. Será servido por uma equipe de jovens monges, que, por terem passado toda a vida em completo isolamento, sequer desconfiam da identidade do hóspede e foram levados a crer que o mesmo trata-se de uma divindade. Passará a maior parte do tempo deitado em uma câmara hiperbárica, submetido à permanente tratamento de renovação celular e recebendo alimentação especial intravenosa – acreditam, o astro e sua equipe, que o processo não só evitará por tempo indeterminado o seu envelhecimento, como o fará rejuvenescer. Não descartam ainda lançar mão de técnicas de criogenia. Os melhores cirurgiões plásticos, evidentemente, também estarão a postos para possíveis retoques.


O artista prepara-se para o retorno.

Inicialmente através, sim, do sucessor escolhido.


Mas o ponto culminante do grande plano é a volta, de fato, do próprio artista à cena mundial. O evento ainda não tem data definida, podendo acontecer dentro de 15, 20, talvez 30 anos – tudo dependerá do desenrolar do projeto, do desempenho do sucessor em manter viva e santificada a imagem do astro e do grau de aceitação da sociedade a respeito da veracidade da ligação entre os dois.


Depende também de aprimoramento tecnológico, o que deverá acontecer brevemente.


Concebe-se o retorno do astro num espetáculo a ser realizado simultaneamente em todo o mundo, através de transmissão de imagens holográficas, a partir de um local secreto. O artista surgirá gigantesco sobre todas as maiores cidades do planeta, dançando e cantando em sua melhor forma, anunciando aos povos que foi capaz de vencer a própria morte e que retornou. Para comprovar a todos que não se tratará de truque com imagens gravadas, debaterá com lideranças mundiais a respeito de fatos relevantes da política mundial naquele momento. Aos céticos, confirmará a veracidade de suas aparições e a autenticidade de seu sucessor. Evidentemente, não entrará em maiores detalhes, nem responderá a perguntas a respeito de sua “ressurreição”. Apenas encantará o mundo e desaparecerá, para retornar de forma episódica e incerta.


Deixará, todavia, uma certeza: ele voltou para retomar seu lugar!


Os seguidores da religião fundada logo após sua morte, que a essa altura deverão ser milhões em todo o mundo, em êxtase, passarão a tratar a data como sagrada: o dia do Seu anunciado retorno! Preparar-se-ão para receber, a partir dela, uma nova multidão de adeptos.


Os últimos céticos da Terra, ainda tecerão teorias e explicações. Investirão tempo e recursos em exaustivas investigações, em busca de respostas lógicas – e terão contra eles um exército de opositores, cada vez mais crentes, cada vez mais fervorosos, cada vez mais religiosos.


Contudo, terão como emblema duas idéias.


Primeiro, a de que a aceitação de toda história, sempre dependeu, sempre dependerá – no passado remoto, no presente e no futuro – da maneira como é contada e do desejo (ou mesmo da necessidade) das pessoas de a aceitarem..


Segundo, de que Deus é apenas algo em que se acredita.

E existirá, se assim se acreditar.



“Pois quê? Se alguns foram incrédulos, a sua incredulidade aniquilará a fidelidade de Deus?”

(Romanos, 3:3)





33 comentários:

Pedro Pyratero disse...

michael forever!

Cyber Pub disse...

Gosto do Michael, mais essa hist´roia toda que você contou...
Sinceramente não acredito que tenha algo que realmente possa, acontecer.
Que bela viajem.
Com todo respeito.

Portal Noticias do Brasil disse...

Muito Obrigado pela visita!!!
Adorei seu blog!

Volte Sempre!!

//

portalnoticiasbrasil.blogspot.com

Antonoly Maia disse...

Uma coisa você tem de sobra: imaginação e criatividade.
Um abraço!

Anabelle disse...

Meu amigo, que viagem!

E, da forma q vc conta, da quaaase pra acreditar que é tudo verdade, parece um texto jornalístico ...rs

As citações bíblicas dão uma "embalagem" a mais pra essa teoria conspiratória toda.

Gostei muito.

Pobre esponja disse...

Gosto da Bíblia, é um dos melhores livros da humanidade; mas trata-se de ficção, não acredito nesse lance de arca, folha tapa sexo, etc; creio em um Deus que não sei descrever, mas se fosse como na bíblia seria bizarro...

abç
boa sorte
Pobre Esponja

Úrsula disse...

"O mundo se “esqueceria” subitamente de tudo o que de ruim estivesse associado ao artista e passaria a reverenciá-lo novamente, como não o fizera nem em seus momentos de maior sucesso. Numa sociedade hipócrita, a morte tem o dom da santificação."


Eu já tiha dado uma voltinha por aqui antes, eu sabia que vc não ia me decepcionar e escreveria algo sobre o assunto...(previsível)...rsrsrsr.

De todas as suas viagens essa prá mim foi a mais interessante. Parabéns! Penso em quantas noites vc passou acordado prá conseguir isso. Vc é demais! Beijos.

Cecilia S disse...

Você escreve muito! Muita criatividade!

Adorei!
www.poderesfantasticos.blogspot.com

Marcus disse...

nossa cara eu num consigo ler tudo não! kkk mais pelas partes q eu li, voce tem cada imaginação! uhauhuh

Unknown disse...

É incrível a facilidade que você tem de surpreender a cada texto.
São todos uma viagem muito boa com um toque de humor que eu curto muito.
O texto pode ser realidade ou pura ficção... O fato é que você escreve muito bem e tem uma visão além do alcance que poucos tem.
Criatividade pouca é bobagem!

.. te dedico!

Macaco Pipi disse...

O IMPOSTOR CONSEGUIU!

LReporta disse...

Criativo. Mas precisa ser mais sucinto; essa é uma das características (quase que) necessárias ao texto on-line.
Tirando isso, parabéns pelo texto.

Erich Pontoldio disse...

Cara que viagem ... ser ealmente essa profecia acontecer vai mudar o rumo do mundo

Unknown disse...

Cara, deu pra viajar nesse texto! Vc fez a coisa TÃO elaborada que da até pra acreditar que é bem possível q ele esteja mesmo, escondido num mosteiro e ficando cada vez mais rico... Adorei!

Vini e Carol disse...

Amigo, que brisa foi essa? shashushuashusa

Meu Deus, quanta criatividade, estou impressionada, você se daría bem como advogado, quase deu pra acreditar. Se não fosse tão absurdo eu acreditaria.

Ótimo texto.

Beijos, Carol

Unknown disse...

Nossa, estou impressionada e sem palavras para descrever o que senti ao ler seu texto. Pude realmente acreditar enquanto li...

Foi uma das teorias mais convincentes (porem absurdas) que eu li nos ulimos dias!

Parabéns pelo texto! Muita criatividade e imaginação.

Há muito nao lia uma historia tão interesante quanto essa.

Ótimos argumentos. Ótimo Texto.

Estou inpressionada.

Beijos
- Vanessa

Anônimo disse...

Nossa MUITO BOM
voce tem uma criatividade de sobra
é tão perfeito que durante a leitura eu estava convicta que tudo isso é real.
Parabens, e continue escrevendo
Abraços

Euzer Lopes disse...

E a Rede Globo continua na busca de autores para sua área de dramaturgia...

Raiana Reis disse...

Muito criativo, ótima ficção, assim vc escreve um filme ou um best seller! ;)
Parabéns, gostei das reflexões imbutidas.
http://tocou.blogspot.com/

Vivica disse...

Que loucura! Deu pra viajar aqui...
Como o pessoal falou aí, imaginação tu tens de sobra.

Talvez pudesse dar uma enxugada no texto. E tbm como já disseram, o tom jornalístico fez com que a tal aparição realmente fosse real. Já fiquei imaginando todo mundo só falando disso nos blogs e twitters e eu desligando a TV por não aguentar mais o assunto. kkkk

www.cobertodefarrapo.blogspot.com

Larissa Mejía disse...

aiix, tipow assim, eu adorava o jeito que ele dançava as músicas dele e tal's... mas ele em si... num me convencia... nunca gostei da voz dele...

Unknown disse...

Fiquei pensando que era real o negocio :P
Parabens pela criatividade, e por esse talento de nos interte lendo :D

Astréia disse...

Achei muito engraçado \o/,kkkk

Uma loucura envolvente,já havia conhecido o seu blog antes, confesso ter visto e desistido de ler pelo tamanho do post. E agora, também não consegui conclui-lo.Meus olhos estão pesando agora...passo depois para concluir,ok. Parabéns pelo seu "fantástico mundo de Bob"

Abraço!

Karina Lima disse...

Que você escreve bem, isso é ponto pacífico. Que você usa das palavras de maneira muito peculiar, isso é mais que notório.

Agora, que você anda bebendo Veja Multiuso 'pá móde' escrever essas tramas surreais, com direito a pesquisar cidades descabeladas no Google Maps até achar 'Jacksonville' ou 'Thrillerland' ou 'BillieJeanlândia', isso sim é novidade!

Meus parabéns, Scorpião-Moonwalker. Como sempre, um bestseller! Vamos esperar o Michael voltar, aí você vai ficar estupidilionário!

Fabiano Silva disse...

Fantástico sua idéia.
Parabéns.

pmfabio disse...

Cara,você quase me convenceu!
Parabens, mas seu blog deveria ser o contador de historiass!!!
abraço!

Anônimo disse...

Uma bela trama. Essa história rende uma boa crítica. Parabéns!

Anônimo disse...

Poucas vezes vi alguém utilizar da narrativa para se contar uma crônica tão bem. Não vi otexto como uma "homenagem ao Michael" msm pq isso enche o saco, mas se foi msms como alguns que comentaram dizem, passou despercebido, pois prestei mais ateção na maneira em que vc escreve. Parabéns!

ojuninho disse...

Quanta criatividade... e imaginação, e o melhor disso, vc soube contar muito bem.
parabens. já estou quase um frequentador ativo do seu blog. rsrs ja comentei em todos os anteriores, por isso q postei nesse.
visita lah o meu humilde bloguinho:

http://ojuninhoblog.blogspot.com/

POSTS RAPIDINHOS, ENGRAÇADOS E INTERESSANTS.

NÃO VÁ EM UM SÓ POST... FIQUE À VONTADE PRA VISITAR E CURTIR O BLOG INTEIRO! e não equuça de provar q foi... comenth. rs

abraço irmão.

daniagatha disse...

Como eu já tinha escrito no twitter, esse seu texto é bem sutil e direto. No começo parecia até um filme xD

Muito bom =]

barbamoco disse...

Cara, eu te ajudo a imprimir todo o texto, formatar e estampar um livro chamado "Antropologia Contemporânea - volume 1".


brilhante, brilhante, brilhante, uma pira mto foda

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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