3.10.08

O Vingador dos Ineptos


Nunca houve um presidente como Lula
(Outubro, 2006)

Necessário se faz que se admita: nunca, em nenhum tempo, um governante foi de tal forma a cara de seu povo. Lula é a própria imagem da democracia, ainda que vista pelo seu lado mais cruel - o que ensina que cada povo tem o governo que merece.

Com o acaloramento da disputa presidencial, ouve-se aqui e ali, de vozes com maior ou menor grau de lucidez, a mesma pergunta: como ainda é possível que o presidente Lula tenha tão fabuloso cacife eleitoral? Sim, pois claro está que nunca houve um governo responsável por um número tão grande de escândalos de corrupção em tão pouco tempo e nunca os mesmos foram tão amplamente divulgados. Um governo em que praticamente todo o primeiro escalão viu-se envolvido em algum tipo de crime relacionado ao roubo de dinheiro público – situação que torna-se ainda mais aviltante quando se recorda a história do partido político que lhe dá sustentação: não era então o PT o guardião da moralidade? Não foi então essa agremiação política durante todos os seus longos anos de raivosa oposição à vários governos, resistente à idéia de aceitar ou de fazer parte de alianças, como que se auto-proclamando “os puros”?

Diante desse panorama assombroso, pergunta-se: como é possível que Lula – e por extensão, seu grupo político – possam ainda receber tão maciço apoio nas urnas? Sim, pois ficou claro e claro está que o plano da gang petista era manter-se no poder pelo maior tempo possível através de uma verdadeira rede de arrecadação de dinheiro sujo, que começava em suas prefeituras e se ramificava por todos os escalões de poder onde um “companheiro” pudesse ser colocado – com o caixa alto, pretendiam comprar a tudo e a todos que porventura se colocassem em seu caminho: parlamentares, partidos, magistrados, imprensa. Tão criminosa era a máquina-de-fazer-dinheiro petista que há indícios fortes (muito fortes, fortíssimos) de que nem a vida de quem se colocasse à sua frente estaria segura – ou alguém se esquece das ainda misteriosas (muito misteriosas, misteriosíssimas) mortes dos prefeitos de Santo André e Campinas?

Com todos esses fatos escancarados à luz do dia, então pergunta-se: como é ainda possível que por muito pouco o presidente Lula não tenha sido reeleito em primeiro turno e ainda mantenha enormes chances de vencer no segundo? Sim, pois diante de uma oposição incompetente, arrogante e pouco patriótica por estar mais preocupada com suas próprias disputas internas de poder do que com os destinos do país, coube a um ex-aliado insatisfeito do governo, um corrupto confesso, o papel de mostrar a ponta do iceberg e dar início à avalanche de denúncias – ou alguém já tinha ouvido falar em “mensalão” antes que Roberto Jefferson tivesse pronunciado essa palavra? E em Marcos Valério (“um carequinha de Belo Horizonte”), quantos de nós já tínhamos ouvido falar?

A pergunta não cala: quem diabos afinal, vota em Lula? E por que?

Existem – ainda – os que o fazem por ideologia, que acreditam piamente na viabilidade de velhas fórmulas, em “estado forte”, no modelo estatizante pregado pelas “esquerdas” – gente que ainda acredita no conceito de esquerda e direita. Arrepiam-se ao ouvir a palavra “privatização” – mas todos, sem exceção, têm nos bolsos seus telefones celulares. São gente do bem, cujo discurso você ouve por educação e que, quando perguntados a respeito da derrocada moral do governo petista, mostram um sorriso amarelo antes de tentar lhe convencer de que os escândalos foram “um bem”, que depois deles o governo se “purificou” – e em seguida vão declamar de cor um sem número de “indicadores sociais” que comprovariam que o governo Lula é praticamente o caminho do paraíso. Mas esses são uma meia dúzia de românticos – umas míseras gotas no mar de votos recebidos pelo presidente-candidato. O brasileiro “médio” nem faz idéia do que seja “direita” e “esquerda” e não tem opinião a respeito de privatizações.

Há um tipo mais perigoso e – graças a Deus! – bem menos numeroso de eleitor de Lula: são seguidores da cartilha “Paulo Betti” de fazer política, aquela que ensina que ética e moral são coisas secundárias, que política é mesmo uma coisa, digamos, mal cheirosa e que os nobilíssimos fins da cruzada lulista justificam quaisquer meios para serem alcançados. Entre esses há mesmo os que declaram “orgulho” – sim, orgulho! – pelo PT ter deixado a fase romântica e ter entrado no jogo com as mesmas armas do “inimigo”: sim, sentem orgulho porque o PT aprendeu a roubar! Esses cínicos-fanáticos, que podem muito bem ter uma foto de José Dirceu de óculos escuros e cara de mau na porta do guarda-roupas, são mais petistas do que brasileiros: nutriram uma crença tão arraigada por essa legenda que a transformaram em paixão e ficaram cegos. Vivem a política como quem torce para um time de futebol, carregam sua bandeira faça chuva ou faça sol, e – ainda que estejam perdendo o jogo por goleada aos 44 do segundo tempo – sempre vão desejar a vitória dos “seus” – mesmo que seja com gol impedido. Psicopatas políticos, delinqüentes cívicos: para essa gente democracia é uma coisa ótima – mas desde que seja exclusivamente a favor daquilo pensam. Todavia, ainda que alguns ocupem posições que os qualifiquem perigosamente como “formadores de opinião”, são muito poucos – e também não elegem um presidente. O brasileiro “médio” não tem esse tipo de fanatismo: torce pelo Corinthians, Flamengo, Atlético Mineiro ou Anapolina – não pelo PT.

O que está levando Lula à reeleição, mesmo depois de quatro anos de bandalheira petista no governo, é uma impressionante massa de brasileiros e brasileiras que simplesmente não se importam com “corrupção”; ou, se um dia já se importaram, já não se importam mais. A voz corrente nas ruas é: "roubar todo mundo rouba, o Lula pelo menos alguma coisa pra gente!". Nos últimos vinte anos, com a reimplantação do regime democrático e a conseqüente liberdade de imprensa, foram tantos e tamanhos os escândalos de corrupção divulgados em todos os níveis de governo, que o brasileiro parece ter ficado anestesiado – além de padecer de um já notório problema de falta de memória e de um evidente desconhecimento a respeito do funcionamento das engrenagens do poder. O brasileiro “médio” não sabe diferenciar deputado de senador, nem sabe dizer de memória os nomes dos quatro últimos presidentes da república: apenas têm em mente que “político é tudo ladrão” ... Os eleitores de Lula simplesmente não estão preocupados em saber quem roubou, quanto roubou, para que fins roubou e se o dito-cujo sabia ou não! Recebem suas "bolsas-esmola" e assistem admirados a ascensão do “pobre que venceu".

Lula é o espertalhão que deu certo - o povo gosta disso, o admira por isso, conscientemente ou não. O brasileiro “médio”, do tipo que encosta o umbigo no balcão da padaria no fim da tarde, para beber cerveja e contar vantagem, sente que Lula é alguém que poderia estar também ali, bebendo, rindo alto, cuspindo no chão e falando sobre futebol – que sucesso fazem nos botecos das periferias as tenebrosas “metáforas futebolísticas” que salpicam os discursos do presidente!

Lula é "que nem a gente", é semi analfabeto, mal preparado, fala errado, mas "chegou lá", enganou todo mundo e tomou o lugar de algum "dotô" - e recebe a admiração de seus "iguais", milhões e milhões de "Lulas" de norte a sul do país, gente que adoraria ser Lula: chegar ao poder, colocar o pé em cima da mesa, fumar charuto, vestir uma "beca legal", comer e beber do bom e do melhor, viajar de jato pelo mundo... Lula é a personificação do “jeitinho brasileiro”, é a prova de que para ascender a uma posição destacada na sociedade – afinal, ele é ou não é o homem mais poderoso do país? – não é preciso muito esforço, nem muito estudo, nem muito talento.

Lula é o vingador dos ineptos.

É o herói dos milhões e milhões de anti-heróis brasileiros, dos que nunca receberam uma oportunidade real na vida ou, se receberam, não tiveram o devido talento para aproveitá-la. E a isso, o governo petista responde com um odioso modelo assistencialista de política social – imagine-se o estrago que um prefeitinho “aliado” de fim de mundo é capaz de fazer tendo nas mãos verbas de algum bolsa-qualquer-coisa! É a troca de dinheiro por votos: compra, literalmente.

Lula é um péssimo exemplo.

Sua popularidade é fruto da mesma inversão de valores que faz com que o chefe da boca-de-fumo seja o líder da “comunidade” ou com que os personagens cafajestes das novelas sejam mais populares que os “mocinhos”. Lula é a cara de um país subterrâneo que existe à margem das ilhas de eficiência, pouco ético, preguiçoso, mal educado, beberrão e de cultura medíocre.

A continuidade do governo Lula aponta na direção do atraso, da gestão equivocada, da politização da engrenagem administrativa, do empreguismo, do assistencialismo, da corrupção, da ineficiência. Mas muito mais – e talvez muito mais grave – do que isso, desnuda a impressionante crise moral do país. Nossa já nem tão jovem democracia está enfim nos mostrando que país somos – nos tirando do papel de vítimas e nos colocando na função de cúmplices.

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2 comentários:

Fábio Pegrucci disse...

COMENTÁRIOS RECUPERADOS DO ANTIGO BLOG


enviado por: Tomás Vieira

Assino embaixo do seu texto.
..Sempre achei isso, que nossos governantes fazem na verdade o que a maioria do povo faria se estivesse no lugar, agiria em beneficio proprio. A maioria da polulação faz pequenas corrupções do dia a dia e parece ser o jeito brasileiro de ser mesmo que tb reflete na politica...merecemos isso mesmo!
abraço


enviado por: GRINGO
\"VINGADOR DOS INEPTOS\" ...MUITO BOM MESSSSMO!


enviado por: Jorge Paulo
sua visão é limitada e egoista, ta lendo muito o Mainardi


enviado por: carlos
muito lúcido, os cronistas de revistas não teriam coragem de abordar o tema dessa forma. tem razão, esse nosso povinho merece mais 400 anos de lula


enviado por: EF
vc é um burguesinho raivoso, paulistinha de merda



enviado por: CLARICE
FABIO, vc q escreveu isso?
fantastico,cada povo tem o governo q merece.

Taimemoinonplus disse...

rs...Imagino a enxurrada de pedaços de pau e tomates podres que vc levaria se esse texto tivesse mais divulgação! rs Isso é que é ser politicamente incorreto!rs

Não tenho, acho, coragem nem paciência pra escrever um texto desses no meu blog e enfrentar Lulistas hidrófobos espumando...e enviando maus eflúvios!Cantando mantra e acendendo incenso já está difícil,vou deixar isso quieto...

Mas só por agora, não vou resistir a dar vazão a 1/1.000.000.000 do que penso sobre a questão, afinal esses comentários antigos de um post antigo, quem vai ler mesmo?! rs

Se bem que vc até me deu vontade de escrever um post desses, só pelo prazer de poder ler e me dobrar de rir com algumas pérolas da argumentação lógica minimalista como a postada pelo EF aí em cima.Eles devem ter aprendido com o mestre a argumentar.rs

Vc analisou bem o fenômeno do pobre que venceu e o fez com jeitinho brasileiro.Ele se desvia jeitosamente de cada novo escândalo, praticamente é o marido pego nu e excitado na cama com a amante que diz pra esposa com ar espantado: " Querida, o que essa baranga está fazendo na nossa cama?! Arght, tira ela daqui!Eu estou nesse estado pq estava sonhando com vc!!!"

Esse post me lembrou um dos discursos do Lula mais irritantes e sofísticos do nosso ( salve rainha, mãe de misericórdia!)presidente: não me lembro em que ocasião, ele veio com uma de " para ser presidente do Brasil não é preciso ter diploma, é preciso ter coração!" Olha, sinceramente, de causar engulhos! Francamente, até mesmo com diploma e o diabo a 4 já está difícil, vem o cara me prestar um desserviço desses como exemplo pra quaquilhões de brasileiros que já não estão morrendo de vontade de ir pra escola?!

O Lula é um cobrador social fonsequiano, muitíssimo bem disfarçado em boa gente, gente como a gente, gente do povo.Desse povo simples e humilde...snif snif snif...que ganha bolsa-isso, bolsa aquilo e goza com o píiiii alheio ao ver um " homem do povo" com a faixa presidencial.deve ser um prazer quase que sexual.

Ora, aqui é o país da Lei de Gerson, do levar vantagem em tudo, onde honestidade rima com babaquice, onde o malandro é idolatrado...Diga-me como pessoas que fazem suas pequenas, médias e grandes falcatruas do dia a dia propinando guardas, fazendo ligações clandestinas de luz, de tv a cabo, vivendo na ilegalidade... poderiam se revoltar contra as desonestidades no poder?!

Obviamente que sempre haverá uma grande complacência... sem falar que isso traz uma esperança, ainda que inconsciente, e uma vingança raivosa e malandra contra os letrados, aos milhares de Lulas espalhados pelo Brasil...Tá me dando vontade de escrever um post, tá me dando vontade de escrever um post, tá me dando vontade de escrever um post! ( respirando fundo) Vai passar!