5.10.08

Romance

(Agosto, 2007)

Quando a conheci, me reconheci – mas custou um pouco para que isso se tornasse claro. Tive medo de encarar frente à frente o “outro” que vivia em mim, há tanto adormecido – mas que ela, com seu faro de mulher, o detectou imediatamente. Ela o arrancou lá de dentro. Eu era outro e me esquecera. Em pouco tempo, todas as cicatrizes de amor de uma longa história haviam se tornado fotografias amareladas em um velho álbum, esquecido em algum baú. Atirei-me no mar sem medo e sem colete salva-vidas: aquele amor, de tão cristalino, era à prova de riscos! Agradeci a Deus por tê-la enviado para florir minha vida de uma forma que eu já não imaginava possível. Eu era dela e queria ser.


Quando o conheci, me desconheci – foi instantâneo! Foi como se ele tivesse desembrulhado a embalagem pela qual eu mesma me conhecia e pela qual os outros me compravam. Ele me tirou lá de dentro. Eu era outra e não tinha idéia. Em poucas horas aprendi mais sobre amor e prazer do que em todo o resto da minha vida e em poucos dias, por aquele amor e inebriada dele, eu já havia destituído a ordem estabelecida a qual me acostumara. Perdi o medo! As mãos dele percorrendo meu corpo, aquele olhar faminto me despindo onde quer que estivéssemos, a excitação de provar do proibido. Eu era dele e não havia nada que ninguém pudesse fazer a respeito!

- Vá embora! Eu quero que você vá embora... Até quando vai sofrer com meus problemas, meus medos ... minha indecisão?
- Se eu aceitei o tal “sofrimento” foi por opção própria ... Eu nunca me esqueci qual é a recompensa que há no fim desse caminho!
- Não é justo com você...
- Eu já não sou quem era, não tenho como voltar...



Ela me surpreendeu e conquistou nas coisas pequenas. Na sua inacreditável aptidão para o “romance” – não é difícil encontrar quem saiba amar, mas muito raro encontrar quem saiba fazer romance. Há amores que não produzem romance. Nossa história era um romance que produzia amor! Ela nasceu sabendo os pequenos segredos dessa ciência inexata. Sua serenidade sem par. Sua capacidade de sentir e irradiar bem estar sem a necessidade de qualquer artifício. Com ela, um sofá e uma caixa de chocolates se transformam numa roda gigante, num show de mágica, num baile de carnaval. Ela me maravilhou com sua ausência de ansiedade pelo que está do outro lado da porta.

Eu achava muita graça por ele se espantar tanto com meu jeito. Algumas coisas para mim eram tão óbvias! Tão fácil e tão bom esquecer-se do mundo por horas, talvez por um dia ou dois – ainda mais quando francamente não há nada de mais excitante ou interessante para se procurar lá fora! Talvez eu tenha sido sempre assim, não estou certa... Mas, se não era, descobri e gostei também disso. Meu amor, o sofá e a porta fechada – essencial era a porta fechada!

- É uma fantasia, é como viver numa nuvem!
- Não tem que ser assim...
- Desafios, eu quero desafios!
- No que uma coisa se contrapõe à outra?



Eu, há tanto tão seguro de mim, com um coração que eu, fazendo piada, muitas vezes dizia ser revestido de “teflon”, não compreendia a mim mesmo. Os dias sem ela demoravam a passar e, quando nosso encontro finalmente se aproximava, sentia-me nervoso, ansioso, quase não dormia de excitação e saudade... difícil conter o desejo de sentir a presença, o calor, o gosto dela!

Eu, sempre tão controlada e madura, por vezes me sentia enlouquecendo – ou adolescendo novamente! Desenhava corações nos cadernos, com o nome dele no centro... Sentia-me ridícula! Mas era irresistível ... Tinha ataques de excitação em locais e em momentos totalmente inapropriados, apenas por lembrar dele!

- Não, não! Não tenho tempo pra sonhar!
- O que há com você? Onde está você? O que fez da nossa felicidade?
- Não quero, posso, não consigo me dedicar...
- Você não pode estar falando sério...ainda é uma menina!



Eu jamais gostei da expressão “fazer amor”! Achava uma coisa hipócrita e boba, que não refletia a realidade dos fatos ... “coisa de americano”, eu dizia... Com ela aprendi. A usar a expressão. E a fazer amor.

Eu gostei demais quando ele passou a dizer que “fazia amor” comigo!

- Sexo, é só sexo!
- Nunca foi “só sexo”...
- Eu posso me controlar, eu posso viver sem isso!
- Você quer viver sem isso?



Ela entendeu e aprendeu o “jogo”... Manter a excitação enquanto se pode fazer muitas coisas, ter muitos prazeres, de muitos tipos!

Às vezes parece muito mais uma grande brincadeira. Adoro o jeito como ele brinca comigo por horas e horas, rodeando, mexendo, insinuando e não “fazendo”. Enquanto tudo isso vai acontecendo, conversamos, bebemos, ouvimos música, damos muita risada... É uma grande brincadeira! Uma longa brincadeira de “sentir-se feliz”!

- A vida não é uma brincadeira!
- Ser feliz é permitido...
- Eu não tenho talento para ser feliz!
- Você tem, apenas se esqueceu...



Que amor é esse? Que mulher é essa? Muitas em uma só! Com ela jamais me sinto sozinho, não há lacuna que ela não preencha...

Eu não desconfiava que o amor pudesse ir tão longe, que ser mulher pudesse ser tão prazeroso e intenso... E que houvesse um homem capaz de me conduzir por esse caminho com tamanha delicadeza...

- Não deu certo...
- Como você pode dizer que não deu certo?
- Você não enxerga ...
- Quem de nós dois está cego?



Esse amor da sentido à vida, as outras coisas todas parecem ter se tornado fáceis depois que ela chegou...

Eu quero me casar com ele. Eu quero. Mesmo porque nem por hipótese me imagino me entregando a outro homem dessa maneira! Com ele quero viver ... e morrer!

- Eu estou morta pra você! Quero que me enterre ...
- Não vou fazer isso... Está tudo vivo, tudo...e você sabe!
- Não faz mais sentido...Sua obstinação é comovente, mas nada vai acontecer... Eu quero que você vá embora...
- Não tenho para onde ir, não há mais onde eu queria ir sem você...



Não há mais ninguém no mundo como ela. Por esse amor e por ela eu vou enfrentar qualquer coisa.

Não há um homem como ele, eu posso afirmar isso... Eu só tenho medo que meu amor seja maior que o dele, mais firme do que o dele... tenho medo de gostar sozinha.



Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir

Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir?

Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás te fazendo de tonta
(Não, acho que estás só fazendo de conta)
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir?


("Eu te Amo" - Tom Jobim / Chico Buarque)

Um comentário:

Fábio Pegrucci disse...

COMENTÁRIOS RECUPERADOS DO ANTIGO BLOG



enviado por: Lua
Trocariamos tudo na vida por apenas uma pessoa, por momentos ao lado dessa pessoa! Qdo aquele alguém que dá sentido a nossa vida faz sua ausência somos tomados por um sentimento semelhante a algo fúnebre, é como se a vida tivesse acabado ali, onde aquela pessoa deixou sua última marca, se último sorriso... Andamos por ali e por aqui, conhecemos várias outras pessoas, mas parece que nada mais no mundo tem sentido, nada mais nos chama a atenção, nada mais consegue nos dar vida da maneira que aquele alguém nos dava! A ausência dela é como faltar-nos o ar, é como ter sede e encontrar-se em um deserto... Olhamos para a frente, tentamos fazer planos, seguir em frente, mas não conseguimos tirar os pés do chão, sair do lugar, pois nossos passos aprenderam a andar acompanhados aos passos daquela pessoa!
Em: 16/09/2007 16:57:53


enviado por: Nadia
Na vida infelismente nem tudo é ou sai como gostaríamos. As vezes nos acontece uma coisa que no momento achávamos que seria ruim mas depois a gente percebe que foi preciso para que outra coisa boa acontecesse...
Em outras vezes passamos por situações que parecem intermináveis..., situações que nos machucam. Mas tudo na vida se supera...� uma questão de tempo!..e todas essas situações, podemos tirar aprendizado de tudo....
Acho lindo a maneira como vc escreve e expressa seus sentimentos....Esse amor que vc sente...� um amor que nunca vi!!!
se cuida...
Em: 15/09/2007 01:18:12



enviado por: Cinderela
Eu sei q esse casal existiu... com a beleza das certezas e até das posteriores dúvidas...

Me surpreendo ainda quando vc fala deles, tão pouco tempo...

Depois dizem q o tempo é que
constrói sentimentos profundos! - Tolices!!!

Não sou mais um de seus admiradores que lamentam não ter vivido e não acreditam que existe...

Não faço parte da platéia, tenho orgulho de sentir na pele a emoção daqueles que fazem parte do elenco!

Para os admiradores vai um recado:

Ele não é um príncipe encantado como todos acham... ele é um príncipe real, e o seu encanto, tantas vezes cobiçado, se destina a uma a uma única princesa...

O tobby mandou um beijo pra vc! ;-)

Rs...

Em: 31/08/2007 16:24:21